Acho que, é a primeira vez em muito tempo que digo num tÃtulo -assim para começar - que não estou bem, com todas as letras.
Os meus pais estão separados. Pois é, já vos tinha dito há uns tempos que as coisas aqui por casa não andavam muito bem... Não melhoraram.
A minha mãe queixa-se que o meu pai sempre foi muito desconfiado e o maior erro dela foi não ter deixado que as pessoas se apercebessem disso, e que está farta porque já são anos e anos a viver assim e que está cansada. A verdade é que ela pode ter a sua razão mas o meu pai também tem a dele... Ela não anda bem, ele diz que por causa do facebook - eu não tenho a certeza mas acho que é um grande causador sim - porque a minha mãe é a tÃpica pessoa que não sabe usar o fb. Nos últimos meses, até de mim, qualquer coisinha que seja dita ela fica logo toda afectada e entra em modo defesa.
Concluindo, a minha mãe pode ter as suas razões para dizer que acabou de vez e que está cansada; mas o meu pai também teve as suas quando decidiu sair de casa, ele estava farto de certas atitudes, de certas "bocas".
Como estou a lidar com isto? Não estou. Não me fui assim abaixo completamente, tento manter-me forte e de pensamento positivo. Mas a verdade, é que me tem custado muito...Na primeira semana eu só chorava. Houve um dia em que a minha mãe não jantou comigo e eis que estava eu, na mesa onde somos éramos sempre 3 a jantar com o "Ceeertaaa" da Cristina de fundo, só, -no silêncio - com o meu comer mais mergulhado em água salgada que devia.
Uma separação é complicado para as crianças, mas tirem um minuto do vosso tempo para pensar como uma pessoa como eu deve reagir face a isto tudo. Os meus pais são, sempre foram e sempre serão o meu exemplo, para tudo. Ver o dia em que não estamos todos a partilhar uma casa como estou habituada desde o dia em que nasci não é fácil, de todo.
Eu adoro ambos, cada um à sua maneira, defendo cada um com os seus defeitos e qualidades. No dia em que tomaram a decisão -eu não estava, estava feliz no cinema com a Cath e a Carol... - decidiram que eu ficaria cá em casa com a minha mãe (porque sejamos sinceros, ela não teria para onde ir - não se dá com o meu avô - , enquanto que o meu pai sempre tem a casa da minha avó e a companhia dela) e se me pedissem a mim para ver com quem iria ficar eu não conseguiria dar uma "resposta", é-me humanamente impossÃvel. Preciso da minha mãe ao meu lado tanto quanto preciso do meu pai, cada um com as suas coisas e as últimas semanas tem sido o real do pesadelo para mim...
Compreendam que eu estava habituada a ter a minha mãe em casa comigo normalmente, o meu pai depois do trabalho a jantar, ao fim de semana, para os mais banais afazeres que tivéssemos. Agora para passar uns mÃzeros minutos com ele tenho que ir até casa da minha avó, que não é muito longe ok. Imaginem que estão habituados a ter uma rotina com uma pessoa e, do nada, há uma quebra nisso... Eu quando chego à beira do meu pai, a maioria das vezes, eu literalmente não sei o que fazer (o que dizer!!)! Eu pergunto-lhe se está bem (dentro das circunstâncias), se tem dormido e comido como deve ser; ele pergunta-me como estão as coisas em casa, como anda a dissertação... E em todo esse tempo eu sinto um nó na garganta, o sistema nervoso que não pára e um turbilhão na minha cabeça (será que está mesmo bem? será que vai ficar tudo bem? o que falo? vou embora? fico mais um bocado? será que ele sente que eu o coloco mais em segundo plano em relação à mãe?), é terrÃvel. E há dias em que, em casa com a minha mãe, eu sinto e penso o mesmo. É um pesadelo porque quase que 'conto' e penso milhões de vezes todos os passos que dou a todas as horas, porque não quero que ninguém se sinta mal. Não devia, cismo muito... Mas esta é a minha natureza, eu acho que é a caracterÃstica que mais tenho dominante. Em relação a tudo e a todos: eu preocupo-me e não posso sequer imaginar que alguém se irá sentir mal ou deslocado com o que faço, porque eu sinto-me assim muitas vezes e não quero ser causadora do mesmo.
Por exemplo, domingo as minhas primas convidaram-me para sair e eu disse que sim, queria distrair-me porque preciso e desanuviar. Depois parei, Oh vou deixar a minha mãe sozinha ao domingo (ao domingo, por mais que estivessem chateados eles estavam sempre juntos em casa), ou O meu pai tinha-me dito para ir ver o jogo da terrinha com ele e eu disse que não queria. Não quero que ele fique triste e se sinta mal porque vou sair com as minhas primas em vez dele. (mesmo que ele tenha dito que não precisava de ir e que estava a chover e que o jogo tenha sido uma caca). Isto todos os dias basicamente das últimas semanas, ou até quando fico em casa e penso "será que a minha mãe precisa de ir a algum lado?" ou "podia sair e ir à beira do meu pai".
Pensem, vocês que já fizeram tese/dissertação ou que tem familiares e sabem como isto é, é um ano literalmente do caraças; de arrancar cabelos; de querer desistir de tudo a todos os instantes. A isto acrescentem os vossos pais a separar-se, uma rotina ao qual estão habituados que é quebrada....
Se eu não tivesse umas primas que me ajudam tanto, uma dissertação que apesar de puxada me dá gozo porque o tema me chama e não me faz literalmente sentir capaz de morrer como muita gente, eu estaria mesmo no fundo do poço, estaria! Mas é como me diz a minha prima: Eu, de há uns dois anos (situação do Stiles e Sophie) para cá, tenho todo um outro mindsite e vibes e tal. Estou com outro tipo de pensamento, que me faz encarar tudo de uma maneira que "quem dera a muita gente". Não sou eu que digo, são as primas. Eu acho que elas tem razão... Tento pensar que não é nada que me afecte directamente como na saúde ou formação sabem? Tento manter o meu espÃrito apesar do espÃrito dos outros estar wrecked, e tento até mudar isso nos outros - o que nem sempre é fácil.
Ai desculpem, estou a falar muito. Ainda não tinha escrito sobre isto, e precisava. Mesmo assim sinto que escrevi tanto e ainda não disse nada.
Não quero que fiquem com a ideia errada, não estou contra a minha mãe. Apoio-a, apoio aos dois incondicionalmente. Juntos ou separados, só quero que estejam bem. Mas um factor fulcral é que a minha mãe precisa de ajuda, ela tem algum problema mental - estudem sobre isto, informem-se saúde mental é tão além de tabus!! - que eu sou tão a favor de se compreender e que não é apenas aquilo que a maioria das pessoas pensam (ah, eu fico tão trigered, tão a fervilhar com esta temática porque é tão importante, há tanto a dizer, há tanto a fazer!) E eu sinto que a minha mãe ainda é um pouco dessas pessoas, e das que precisa de ajuda e não reconhece, diz que está bem e não procura....
Eu sou a primeira, a fazer de psicóloga com eles os dois, eu falo com eles eu digo para procurarem profissionais, dou conselhos.
Mas no fundo, eu sou a filha. Acho que sou a que mais sofre com isto tudo, e ninguém (me) vê e percebe.